A iluminação baixa, a ausência de óculos e um pouco de bebida me
deixavam um pouco lenta e absorta, mas aquela sensação era culpa exclusivamente
tua. Era culpa do teu corpo
encostado ao meu, pairando sob o chão amadeirado, flutuando levemente ao
ressoar musical. Era culpa das tuas mãos percorrendo meu corpo, do afagar de
teus dedos sob os meus, do faiscar que ocorria a cada aproximação. Era culpa do
teu cheiro me inebriando os sentidos, era culpa de teus fios enrolados aos meus
dedos, era culpa de tua nuca tentadora e instigante.
Era culpa do
teu sorriso espontâneo aos nossos rostos demasiadamente próximos. Era culpa do
suspiro que nos tomava ao afastarmos os lábios milimetricamente. Era culpa da
vontade avassaladora de reaproximá-los a todo tempo, e ao mesmo tempo
afastá-los abraçando o entorpecimento. Era culpa do desejo de recobrir teu
rosto de beijos e sentir tuas bochechas sorrirem instintivamente.
Era culpa dos
eternos segundos em que tua boca balançava à minha ao ritmo dos sons ao redor,
mesmo que os únicos sons perceptíveis a nossa audição fossem o da respiração e
batimentos cardíacos que proferíamos. Era culpa de como teus cílios afagavam
minhas bochechas mesmo que não se encostassem, e de como meus pés levantavam automaticamente
ao meu corpo ser recostado para mais próximo de ti.
Era culpa da
sinestesia do momento em que nossos rostos se encostavam e não conseguiam mais
se desvirtuar. Era culpa da eletrostática que me fazia agarrar novamente os
lábios aos teus e continuar a dança efervescente de nossas línguas. Era culpa
da música que teus lábios proferiam ao sorrirem bobos fitando meus olhos. Era
culpa de como esse som fazia-me nasalar o calor que cercava-nos os corpos e
percorria todo o interior de minh’alma.
Era culpa de como sentinhamo-nos iluminados,
de como meus olhos conseguiam fitar em perfeita definição os teus. Era culpa da
vontade de beber um do outro. Era culpa da sede de nos entorpecer de
arriscar. Era culpa da embriaguez resultante de amar.
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