sexta-feira, 8 de julho de 2016

A iluminação baixa, a ausência de óculos e um pouco de bebida me deixavam um pouco lenta e absorta, mas aquela sensação era culpa exclusivamente tua.  Era culpa do teu corpo encostado ao meu, pairando sob o chão amadeirado, flutuando levemente ao ressoar musical. Era culpa das tuas mãos percorrendo meu corpo, do afagar de teus dedos sob os meus, do faiscar que ocorria a cada aproximação. Era culpa do teu cheiro me inebriando os sentidos, era culpa de teus fios enrolados aos meus dedos, era culpa de tua nuca tentadora e instigante.
Era culpa do teu sorriso espontâneo aos nossos rostos demasiadamente próximos. Era culpa do suspiro que nos tomava ao afastarmos os lábios milimetricamente. Era culpa da vontade avassaladora de reaproximá-los a todo tempo, e ao mesmo tempo afastá-los abraçando o entorpecimento. Era culpa do desejo de recobrir teu rosto de beijos e sentir tuas bochechas sorrirem instintivamente.
Era culpa dos eternos segundos em que tua boca balançava à minha ao ritmo dos sons ao redor, mesmo que os únicos sons perceptíveis a nossa audição fossem o da respiração e batimentos cardíacos que proferíamos. Era culpa de como teus cílios afagavam minhas bochechas mesmo que não se encostassem, e de como meus pés levantavam automaticamente ao meu corpo ser recostado para mais próximo de ti.
Era culpa da sinestesia do momento em que nossos rostos se encostavam e não conseguiam mais se desvirtuar. Era culpa da eletrostática que me fazia agarrar novamente os lábios aos teus e continuar a dança efervescente de nossas línguas. Era culpa da música que teus lábios proferiam ao sorrirem bobos fitando meus olhos. Era culpa de como esse som fazia-me nasalar o calor que cercava-nos os corpos e percorria todo o interior de minh’alma.
Era culpa de como sentinhamo-nos iluminados, de como meus olhos conseguiam fitar em perfeita definição os teus. Era culpa da vontade de beber um do outro. Era culpa da sede de nos entorpecer de arriscar. Era culpa da embriaguez resultante de amar.


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